Uma moradora de rua com dois filhos, um deles ainda usando fraldas, o outro já dava suas cambalhotas, um pequeno ginasta aparentando ter apenas dois anos de idade. Esta era a família.
Ao lado de um supermercado, um carrinho de bebê, provavelmente doado e outro onde guardava seus pertences, ela estendia seus dois colchões finíssimos e os forrava com um lençol estampado encardido, mas, aparentemente limpo.
Depois algumas almofadas forradinhas, uma delas tinha até babadinhos na lateral.
Feito isso ela pegou o leite em pó que ainda restava lá no fundo do pacote e colocou em uma velha garrafa de iogurte, no momento em que fazia isso, as duas crianças dois meninos gordinhos calçados em suas sandalhinhas brincavam juntos, notava-se a amizade entre eles. Um curtia o outro numa brincadeira com o vento e com uma única garrafa pet na qual continha umas gotas de café com leite, provavelmente frio.
A mãe sacudia àquele leite com água fria, e vez em quando olhava para ver se já havia transformado em leite líquido.
Deu para seus garotos, como alimento do dia, o que ela comeu?
Àquele café sacudido de brincadeiras que ainda restava no fundo da velha garrafa pet.
Já eram mais ou menos 10:30 h da manhã, quando alguns homens que fazia a manutenção de um poste ofereceram pão e alguns biscoitos à ela. Que agradeceu e guardou numa sacola plástica pendurada no carrinho.
Os garotos e ela deitaram-se e dormiram.
Todos juntos naqueles dois pedaços de espuma fina e gasta.
Os homens se divertiam com a brincadeira e as cambalhotas dos garotos e se impressionavam com o cuidado que ela os tratava.
Chegou outra senhora também moradora de rua e conversou por alguns segundos com ela, de longe pude ver algo ainda mais surpreendente.
Ela emprestou um pacotinho de fraldas descartáveis, o único que tinha já aberto e em troca pediu uma garrafa pet de água e uma roupinha para o menor.
Fiquei curiosa para saber de onde ela conseguia àquelas coisas, eram poucas, metade apenas, mas era o tudo que possuía de material. Num dado momento, pensei em perguntá-la, mas, nem precisou. Vi que ela vendia latinhas e pelo semblante simples e seus simpáticos garotos, algumas pessoas a ajudavam, com um pão, um biscoito e assim ela vivia.
Lá pelas 13:30 h, eu já nem lembrava que estava à espera do meu amigo.
Quando ele chegou, eu já havia escrito este artigo, ele no engarrafamento estressante, chegou reclamando e dizendo, "que terror nesta minha vida".
Pediu desculpas pela demora e perguntou se eu também alcancei o engarrafamento.
A caminho da nossa reunião contei para ele o que eu estava fazendo, enquanto o esperava.
Disse: não peguei engarrafamento, saí mais cedo de casa, estava aqui observando uma coisa que para muitos de nós, é a miséria, o sofrimento, outros passam e não vêem nada de mais, isso no Brasil é normal. Por que se importar?
Concordo que no Brasil é infelizmente comum, mas, já parou para pensar, o por quê de ser comum?
Àquela mulher com toda falta de coisas materiais e de sobrevivência básica do ser humano, é rica e completamente bem dotada de amor, sabedoria.